canavial eficiente

Eficiência, Produtividade & Associados

Ao fazer parte de uma associação, o produtor tem acesso a tecnologias e ferramentas que impulsionam a sua lavoura

06/10/2020 08:29

No início de setembro aconteceu o Sugar & Ethanol Brazil Virtual, realizado pela Informa Connect, que reuniu produtores de cana e etanol de cana e de milho, usinas, compradores e representantes do setor sucroenergético para discutirem as oportunidades voltadas ao mercado brasileiro na produção e comercialização de açúcar e etanol.

O tema “Novas tecnologias para ganhar eficiência” abordou melhorias no processo de produção sucroalcooleira que geram ganhos, além de promover a troca de conhecimento sobre inovações técnicas que impulsionam o setor.

Para tratar sobre esse assunto foram escalados Luiz Carlos Corrêa Carvalho, diretor da Abag e da Canaplan, e Almir Torcato, gestor corporativo da Canaoeste.

Carvalho iniciou dizendo que, nos últimos 40 anos, o crescimento da produtividade total do setor canavieiro, assim como do agro como um todo, foi positivo e maior do que a produtividade total de outros segmentos do país, que foi pequena e não chegou a 10%.

“Crescemos entre 2 e 3% ao ano. Nos últimos 10 anos, porém, tivemos perda de produtividade em alguns fatores que é importante destacar: políticas públicas canceladas ou perdidas, processo de aprendizado com a mecanização do plantio e colheita de cana, expansão da cana-de-açúcar em várias regiões que não tinham a cultura”, elencou Carvalho.

Segundo ele, a recuperação da produtividade no setor começou a ser notada nos últimos três anos, e a pandemia, que travou todo mundo, não impactou a produção canavieira, mas sim as demandas dos produtos finais do setor, que foram reduzidas e trouxeram impactos econômicos e financeiros para o segmento.

O executivo também destaca o programa RenovaBio, que teve início de operação neste ano, trazendo a sustentabilidade como uma palavra-chave para o setor. “Antes tínhamos preocupação com a produtividade agrícola, qualidade da matéria-prima, longevidade e, agora, a redução das emissões de carbono, um estímulo importante para a produtividade e renda do setor”, observa.

Outro ponto a favor do Brasil é o modelo flexível de indústria, além de uma moagem longa que reduz os custos fixos e caracteriza o modelo da região Centro-Sul de produzir cana, açúcar e etanol.

O uso de variedades, as tecnologias agrícolas utilizadas nas fases produtivas da cana, no controle de pragas e doenças, e as produtividades em diferentes ambientes de produção também são questões importantes que impactam os resultados do setor.

Uma característica relevante da região Centro-Sul apontada por Carvalho é a alta dispersão de dados, diferentemente de outras regiões do mundo. “Temos unidades que vão de sete a oito toneladas de açúcares totais recuperados por hectare e outras acima de 14 toneladas de açúcares totais, portanto uma dispersão enorme entre as localidades de uma mesma região”.

Associativismo e produtividade

Em sua fala, Torcato destacou o aspecto do produtor de cana e sua importância para o setor. Com aproximadamente 2050 produtores de cana associados, a Canaoeste entrega em torno de 8 a 10,5 milhões de toneladas de cana às unidades industriais.

Ele explicou que, em linhas gerais, o trabalho da associação está focado em três pilares: técnico agronômico (agronômico, topográfico, laboratório e convênios), jurídico legal (civil/comercial, ambiental, exigências legais, outros) e representação política (municipal, estadual e federal, Consecana-SP, órgãos políticos).

“Quando falamos do volume de produtores de cana temos uma concentração. Cerca de 91% são produtores abaixo de 12 mil toneladas de cana. O acesso à tecnologia para esse tipo de perfil, se não for através de uma ferramenta democrática em que a associação disponibilize, induza e facilite o uso, não é tão viável, seja por custo ou pela própria familiarização com a tecnologia. O papel da associação nesse sentido é prover essa tecnologia para incrementar a produtividade do produtor, já que na região de Sertãozinho 40% de toda a cana moída são de fornecedores de cana”, esclareceu Torcato.

O problema de informação e tecnologia é evidente para os produtores, mas a informação sozinha, sem link e sem pensamento não tem valor. “É isso que estamos construindo na associação nos últimos três anos: formar uma base de dados para que seja um valor agregado para a produção de cana”, comenta o gestor.

Os custos de produção crescentes e as margens cada vez menores, entre outros fatores, levam os produtores a um caminho de mão única com ganho em escala (melhores custos de produção), o de familiarizarem-se com a tecnologia (atualização), vizinhar e estabelecer uma relação ganha-ganha, além de contar com órgãos de classe que promovam esse futuro da economia colaborativa e a democratização da tecnologia.

Outro ponto relevante é que a cana de produtor independente tem uma qualidade superior em relação a da unidade industrial por conta da atividade-fim, e a produtividade, em termos de toneladas por hectare, é um pouco maior quando comparada com a cana geral da região Centro-Sul.
Ao promover a política de vizinhança, Torcato ressalta que há uma melhora da assistência, agregando valor ao coletivo, formando blocos organizados por variedade e época de colheita que facilitam a colheitabilidade e promovem uma melhor integração entre as unidades produtoras, além de trabalharem a estratégia de formação de condomínio, facilitando o processo de entrega de cana para as unidades industriais, feita através do CCT.

“No geral temos 130 mil hectares e mais ou menos 3.500 propriedades, indo de Severínia até Descalvado. Levantamos as informações de todos os produtores da Canaoeste para auxiliá-los na formação e padronização de informações agronômicas”, pontua Torcato.

Através destas informações está sendo construído um banco de dados em que, em cada fazenda, a tendência é que todos os hectares tenham carta de solos, ambiente de produção e mapas de biomassa identificados, para que, de maneira tecnológica, as pragas e reboleiras sofram intervenção imediata a fim de evitar perdas na produção.

“Saliento que a principal dificuldade hoje neste índice é que quando identificamos a intervenção, muitas vezes ela não é imediata e isso está impactando no processo produtivo do ganho de qualidade. A intervenção deve ser realizada em nível de urgência, mas isso não acontece”, atenta Torcato.

Outro ponto relevante é que a tecnologia traz e minimiza custos, não só para a produtividade, mas para a atividade. Os mapas e as geolocalidades da propriedades permitiram a contratação e a construção de um sistema de monitoramento de incêndio, um passo importante em relação à questão ambiental.

“Hoje, o custo ambiental da atividade impacta muito no cômputo final de produção de cana. Quando há um incêndio no canavial, o sistema de monitoramento emite um alarme, o nosso operador liga para o produtor informando da possibilidade de incêndio e aí tem início o PAM (Plano de Auxílio Mútuo) entre o produtor e a unidade industrial para facilitar e incorrer na tratativa do problema”, explica Torcato.

Sozinho, dificilmente o fornecedor conseguiria bancar uma tecnologia como essa ou fiscalizar o foco diretamente, seja por conta de custos ou familiaridade com o sistema. “Prover essa tecnologia através de uma associação é democratizar essas ferramentas, agindo como facilitador, o que implica num papel importante na vida do produtor como um todo”, ressalta o gestor da Canaoeste.

Ele ainda conta que dentro do universo de 2050 fornecedores associados, foram utilizados em 2019 mais de 17 mil ordens de serviço entre atendimento técnico, jurídico e ambiental. Fazendo uma conta rápida, significa que durante o ano o produtor recorreu à associação quase nove vezes. “Se ele colocar isso no custo de sua atividade teria um impacto muito grande no resultado final. Ao pegarmos essas 17 mil ordens de serviço e faturarmos em valor de mercado determinado por órgãos como OAB e Crea, por exemplo, chegaríamos ao montante de quase R$ 40 milhões. Fazemos isso com 1/4 deste valor, e para cada real investido na associação geramos, em serviços diretos que impactam na economia do processo do produtor, quatro vezes mais. Ser uma organização que defende os interesses e promove ferramentas, democratiza e cria estratégias para aumentar a produtividade é o caminho e o nosso trabalho”, afirma Torcato.

Fonte: Revista Canavieiros
Escrito por: Diana Nascimento

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