El Niño e La Niña: como impacta o mercado de agricultura?

Quem trabalha com negócios sensíveis a alterações no clima e fenômenos meteorológicos precisa conhecer bem do que se tratam esses nomes e saber como agir para gerir os possíveis impactos.

08/05/2019 08:25

De tempos em tempos, a parte de meteorologia dos jornais na televisão só fala sobre um assunto: El Niño. Tempestades? É por causa dele. Temperaturas altas? Ele também. Algum tempo depois, é sua “parceira”, La Niña, que está no foco das conversas sobre o tempo.

Quem trabalha com negócios sensíveis a alterações no clima e fenômenos meteorológicos precisa conhecer bem do que se tratam esses nomes e saber como agir para gerir os possíveis impactos.

Neste post, explicamos os conceitos de El Niño e La Niña e esclarecemos sua relação com a agricultura. Além disso, damos dicas de como o gestor pode agir diante desses fenômenos. Boa leitura!

O que é El Niño?

Existe uma corrente marítima quente que se chama El Niño (“o menino”, em espanhol), mas o fenômeno homônimo — e bem mais famoso — não é somente o deslocamento dessa massa de água: trata-se de um aquecimento anormal do sistema oceano-atmosférico na zona tropical do Oceano Pacífico.

Assim, essa definição considera não só as águas, mas também as mudanças atmosféricas próximas à superfície do oceano. A descrição do fenômeno também leva em conta o enfraquecimento dos ventos alísios na zona equatorial do Oceano Pacífico.

O resultado do aquecimento das águas oceânicas nessa região, somado ao enfraquecimento dos ventos, resulta em variações climáticas não só nessa zona, mas em todo o planeta. Nos níveis baixos e altos, há transformações na circulação da atmosfera, impactando os padrões de transporte de umidade.

Como consequência, ocorrem variações na distribuição das chuvas nas regiões tropicais e em latitudes médias e altas do planeta. Os estados da faixa sul dos Estados Unidos e o Peru são áreas que costumam sofrer com o aumento de chuvas, que causam enchentes devastadoras.

Por outro lado, no lado oeste do Oceano Pacífico, secas severas algumas vezes causam incêndios igualmente devastadores na Austrália. Em algumas outras regiões do globo, também é possível verificar variações de temperatura de até 4° ou 5° para cima ou para baixo.

O que é La Niña?

É quase automático pensar que, se El Niño é uma alteração quente das condições atmosféricas, La Niña (“a menina”, em espanhol) seria o seu contrário, com resultados totalmente opostos. Mas isso não é totalmente verdade.

Durante o período de ocorrência do fenômeno, há um aumento dos ventos alísios no Oceano Pacífico, que empurram as águas mais superficiais e quentes para a região Equatorial Ocidental do oceano. Como consequência, ocorre um desnível dessas águas e são desencadeadas diferenças significativas na temperatura, com uma quantidade maior de águas frias exposta na região oriental do Pacífico. 

As águas mais quentes localizadas na região oeste do oceano geram maior evaporação e movimentos ascendentes. E, por conta disso, há maior geração de nuvens de chuva — principalmente no nordeste do Oceano Índico e no oeste do Oceano Pacífico.

A todo esse movimento de circulação das águas e dos ventos se dá o nome de célula de circulação. No Pacífico, a célula que tem movimentos ascendentes na região central/ocidental e descendentes no oeste da América do Sul é chamada de célula de Walker.

Durante La Niña, essa célula fica mais alongada e os movimentos descendentes no Pacífico Equatorial Oriental ficam mais intensos do que o normal. Isso inibe muito a formação de nuvens de chuva na região.

Quais seus impactos na agricultura?

El Niño e La Niña não são fenômenos isolados, mas fazem parte de uma dinâmica conhecida como Osen (Oscilação Sul – El Niño) ou Enos (El Niño – Oscilação Sul), intercalando-se e se sucedendo. Ou seja, quando há a ocorrência de um, haverá a ocorrência do outro, pois pertencem a um mesmo ciclo.

Um estudo realizado pelo Instituto Nacional de Ciências Agroambientais do Japão e coordenada pelo pesquisador Toshichika Iizumi mapeou os impactos que a Osen causa nas principais culturas agrícolas nas diferentes regiões do globo.

Ao contrário do que é comum pensar, esses fenômenos não causam somente prejuízos. Na verdade, a pesquisa indica que El Niño pode aumentar os rendimentos de até 36% das áreas plantadas e, por outro lado, diminuir em até 24% delas. No Brasil, as culturas favorecidas são o milho, a soja e o arroz. 

Já com La Niña, os números são um pouco diferentes. Os impactos negativos podem chegar aos 13% das áreas cultiváveis e os positivos ficam em até 4%. Uma das culturas beneficiadas pela ocorrência desse fenômeno, de acordo com uma publicação da Embrapa, é o trigo, que é um cereal de inverno. A falta de chuvas na primavera diminui a ocorrência de doenças e até melhora as características do grão.

Apesar de guardarem sempre as mesmas características, cada ocorrência do ciclo El Niño – La Niña terá intensidades diferentes. Ou seja, os impactos sobre a agricultura também serão variáveis, de acordo com a quantidade de chuvas ou de períodos de seca de cada ano.

A Osen tem uma alternância de cerca de 3 a 7 anos — no entanto, de um evento até a ocorrência seguinte pode haver um intervalo que varia de 1 a 10 anos. Os El Niño mais intensos desde que se começou a fazer as observações de TSM (Temperatura de Superfície do Mar) foram em 1982-83 e em 1997-98 e em 20015-16. Já La Niña mostrou sua maior intensidade em 1988-89.

O que fazer quando esses fenômenos acontecem?

Na verdade, o melhor período de ação é antes de esses fenômenos ocorrerem. O gestor de um agronegócio precisa conhecer as dinâmicas climáticas e esses fenômenos esporádicos justamente para conseguir se planejar antecipadamente e otimizar a gestão do seu agronegócio

Tanto El Niño como La Niña são fenômenos previsíveis com uma margem de tempo que permite o planejamento. Uma boa consultoria meteorológica é capaz de fornecer as informações sobre essas ocorrências. De posse desses dados, o gestor consegue determinar o melhor momento para o plantio de acordo com a incidência de chuvas, que estará modificada.

É importante observar os dados fornecidos pelo serviço de previsão do tempo e pensar a melhor época para semear, calculando como estará o tempo nas semanas de colheita. Ter conhecimento prévio da ocorrência da Osen é útil até mesmo para avaliar a possibilidade de adotar sementes que sejam mais resistentes às condições meteorológicas em questão.

El Niño e La Niña são dois fenômenos que fazem parte do calendário global e impactam de forma decisiva o agronegócio. Mas esse ramo também está sujeito a outros eventos climáticos. Por isso, um serviço de monitoramento meteorológico é fundamental para o gestor fazer um planejamento estratégico eficiente para o negócio.

Fonte: https://blog.somarmeteorologia.com.br/el-nino-e-la-nina-como-impacta-agricultura/

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