Coluna Climática

As causas e consequências da onda de calor de setembro de 2023

04/12/2023 14:20

No período entre os dias 17 e 27 de setembro de 2023, o Brasil de forma geral, passou por uma intensa onda de calor com os termômetros se aproximando ou até mesmo ultrapassando os 40ºC, atingindo de forma mais específica os estados do Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Tocantins e Rondônia.

Conforme a climatologia, que trata da observação e compilação dos dados meteorológicos por um período de no mínimo 30 anos, as ondas de calor, inclusive no mês de setembro são eventos relativamente comuns. Porém, neste ano de 2023, temos um participante a mais, que vem sendo manchete no mundo inteiro, contribuindo em algumas regiões do planeta com inundações, ciclones intensos, incêndios florestais, seca na Amazônia, dentre outras catátrofes climáticas, que se trata do conhecido El Niño, que é causado por uma aquecimento anômalo das águas do Oceano Pacífico, e cujos impactos ocorrem em todo o globo. Ressalta-se que este ano de 2023 o El Niño está se mostrando mais forte desde o mês de julho, e o sinal, em nosso caso, se mostrou mais evidente devido a sequência de dias com elevadas temperaturas, incluindo o período noturno, bem como um intenso ciclone extratropical registrado na região Sul do país.

Em nosso caso, além da atuação do El Niño, houve a configuração de um fenômeno meteorológico denominado de bloqueio atmosférico, que se trata de um sistema de alta pressão atmosférica configurado no centro do Brasil, e que não permite que as frentes frias, causadoras de precipitação, oriundas do sul subam, e nesta situação os dias são sem nuvens e com temperaturas elevadas, e a persistência desta situação contribuiu à situação observada. Destaca-se, que geralmente em anos de El Niño, esse sistema de bloqueio tende a ser mais intenso e a ficar mais tempo estacionário no Brasil central.

 O mês de setembro é de calor em nosso país, e com temperaturas já um tanto mais elevadas, próximas ou até mesmo acima dos 40ºC, principalmente no Brasil Central, bem como no noroeste de Minas Gerais, centro-oeste e norte do estado de São Paulo. Entretanto, o que se observou nesta onda de calor foi a manutenção de temperaturas elevadas por vários dias consecutivos.

O mapa abaixo apresenta até quantos graus acima (cores quentes) e abaixo (cores frias) a temperatura máxima se comportou no decorrer do mês de setembro de 2023.

E na região Canaoeste as temperaturas também foram em alguns casos, acima de 40ºC no período entre 17 e 27 de setembro de 2023, conforme o quadro  a seguir.

Tabela 1 – Temperaturas máximas observadas no setor Canaoeste entre os dias 17 e 27 de setembro de 2023

Supreendentemente, não houve um aumento significativo no número de focos de queimadas no estado de São Paulo durante a onda de calor, muito provavelmente devido ao fato de que a população estar ciente das condições críticas que estavam ocorrendo e nem mesmo os “piromaníacos” se atreveram a cometer seus delitos ambientais. Essa informação pode ser verificada ao olharmos os números de focos de calor do satélite de referência do INPE das semanas que anteveram a onda de calor e durante o período crítico. Uma redução de mais de 30%. Um claro sinal que os alertas, notícias e avisos emitidos fizeram efeito e conteram um desastre maior. Pois numa situação dessas poderíamos ser uma tempestade perfeita de calor, incêndios e fumaça fora de controle.

Fonte: Inpe. Programa de queimadas

E em termos da cultura da cana de açúcar, como as temperaturas elevadas impactam na mesma?

Apesar da cana de açúcar ser tolerável ao calor, as condições ideais estão na faixa entre 25ºC a 35ºC, temperaturas acima de 40ºC, podem comprometer a fisiologia da cana, situação que pode ser agravada por baixos volumes de precipitação. Em temperaturas acima de 38ºC, o crescimento dos colmos, que é responsável pela sustentação das folhas, e contém, aproximadamente, 90% de caldo e 15% de fibras, é praticamente nulo.

Como já fora citado, a cana de açúcar é tolerante às altas temperaturas, porém nestes casos, com persistência de períodos de elevadas temperaturas, devem ser empregadas técnicas de irrigação para a melhor saúde da planta.

Ainda não é possível prever quando ou com qual intensidade ocorrerá uma nova onda de calor, porém o setor sucroenergético deve estar alerta, ainda mais se tratando de ano de El Niño, e este episódio já está se mostrando bastante intenso.

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