Coluna Climática

Início da temporada das frentes frias!

09/08/2023 15:35

As imagens de satélite dos dias 13 e 14 de maio de 1994 indicavam o avanço de uma frente fria em direção ao estado de São Paulo. Uma tempestade poderia ocorrer e uma atmosfera instável já indicava que poderia ser algo preocupante. As típicas nuvens cirrus “rabos de galo”, Figura 1, que prenunciam o avanço de uma frente fria já invadiam o Setor Oeste da região de Ribeirão Preto ao longo do dia 14. Os ventos mudaram de direção, agora sopravam de Norte e Nordeste, somente por esses fatores. O agricultor raiz, aquele que sabe observar os elementos da natureza, a umidade do solo, o cheiro da chuva, já antecipava que algo estava por vir.

Nuvem cirrus
Figura 1 – Nuvem cirrus “rabos de galo”

Naquela noite do dia 14 a frente fria finalmente chegou à região, conforme apresentado na Figura 2, com uma potência pouco comum e com todos os ingredientes para um temporal histórico.

Imagem de Satélite
Figura 2 – Imagem do Satélite Meteosat-3, canal IR com atuação da frente fria (quadrado preto) no estado de São Paulo na noite do dia 14 de maio de 1994.

Com ventos acima de 100 km/h, forte chuva de granizo, chuva acumulada de 200 mm, o que para um mês de maio é 3 vezes superior a média climatológica. A tempestade, que alguns afirmam poderia estar associada a um tornado, causou 3 fatalidades e atingiu mais de 5.000 imóveis, deixando ainda, mais de 60% do município sem energia elétrica e mais de 600 pessoas ficaram desabrigadas. Na época os especialistas já confirmavam que uma frente fria de forte intensidade seguia em direção ao estado de Minas Gerais quando foi bloqueada por uma massa de ar quente que predominava sobre o Centro-Oeste do país.

Eventos meteorológicos como este são, de certa forma, raros, mas servem para demonstrar o potencial de desastres que uma frente fria pode causar, não só à população urbana, mas também aos trabalhos de campo em pleno mês de colheita da cana-de-açúcar. Neste evento em especial pode-se destacar pelos menos o vento forte que causa o acamamento da cana, e o excesso de chuva que nesta magnitude de 3 vezes acima da média para um mês de maio, pode inviabilizar o tráfego de maquinário pesado devido ao risco de atolamento.

Embora uma frente fria possa ocorrer em qualquer mês do ano no Centro-Sul do Brasil é durante o mês de maio que elas começam a ser mais frequentes tanto em quantidade quanto em intensidade. É importante ressaltar que maio é um mês que por vezes tem características de verão e às vezes de inverno, pois é um mês de transição de estações, com isso as tempestades nesse período podem ser mais intensas. Ao longo do período de outono e inverno são esperadas de 3 a 4 frentes frias mensais capazes de atingir as regiões sucroenergéticas do estado de São Paulo, trazendo na maioria das vezes pouco volume de chuvas, mas eventuais quedas nas temperaturas capazes de trazer algum prejuízo à cana-de-açúcar, principalmente quando há registro de geadas. Durante a passagem de uma frente fria, durante os meses de inverno, temos uma melhoria das condições ambientais como aumento da umidade, aumento da nebulosidade, queda nas temperaturas que por sua vez afastam ou diminuem o risco de incêndios.

Este ano durante o período de colheita estaremos em período de transição entre a neutralidade e o fenômeno climático El Niño, e diante de tal configuração climática, no decorrer dos próximos meses, as áreas de cultura da cana-de-açúcar, principalmente das Regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil tendem a não ficarem tão secas. E geralmente em anos de El Niño as chuvas, no estado de São Paulo, tendem a ficar ligeiramente acima da normal climatológica, e dessa forma, caso alguma frente fria avance de forma mais intensa no decorrer do mês de maio, não será nenhuma surpresa.

Identifique o avanço de uma frente fria observando a natureza

Sobre o estado de São Paulo é possível observar as nuvens cirrus dominando os céus, prenúncio de avanço de frente fria. No sul do Paraná e Santa Catarina a frente fria está ativa com muitas nuvens e chuvas esparsas. Já sobre o Rio Grande do Sul o bom tempo pós frontal volta a predominar com o avanço do ar frio.

  • Pré-frontal: os ventos de Leste e Sudeste giram para Norte e Noroeste. Há forte aquecimento com possíveis trovoadas. Aparecem finas nuvens cirrus que lembram rabos de galo, ocorrem a grandes altitudes em forma de fibras ou céu leitoso. Tendem a aumentar pelos Setores Oeste e Noroeste.
  • Frontal: os ventos giram de Noroeste para Oeste, Sudoeste e finalmente Sudeste. Ocorrem pancadas de chuvas que vão diminuindo de intensidade, mas podem se manter por horas, seja de forma contínua ou intermitente. A temperatura cai.
  • Pós-frontal: a chuvas cessam, a temperatura cai ainda mais durante a noite e madrugada podendo ocorrer geadas em alguns casos. Os ventos ficam mais calmos de Leste ou Sudeste.

Marcelo Romão – Especialista em Meteorologia e Analista de risco de fogo

Felipe Farias -Meteorologista especialista em extremos meteorológicos.

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