Ele terá que ser um dos operadores da retroescavadora que, ao lado da Secretaria da Agricultura, derrubará o muro ideológico que cresceu durante anos entre as duas pastas e se tornou um grande obstáculo para que o Estado de São Paulo pudesse anunciar o quanto é desenvolvido em termos de sustentabilidade.

Queda do Muro – Entrevista com Marcos Penido

02/05/2019 08:15

Ao assumir a secretaria criada pelo governo de João Dória, que une as pastas de Infraestrutura e Meio Ambiente, Marcos Penido, engenheiro civil com larga carreira dentro do setor público habitacional, recebeu uma missão totalmente antagônica com o seu ofício, a de destruir.

Ele terá que ser um dos operadores da retroescavadora que, ao lado da Secretaria da Agricultura, derrubará o muro ideológico que cresceu durante anos entre as duas pastas e se tornou um grande obstáculo para que o Estado de São Paulo pudesse anunciar o quanto é desenvolvido em termos de sustentabilidade.

Por outro lado, ele também terá que utilizar muito bem sua experiência como construtor, principalmente no sentido de criar, junto à população urbana, a ideia de que chegou a vez de fazer a melhor gestão dos recursos naturais, ou seja, trabalhar para tornar medidas “populistas” a construção de redes de saneamento básico ou da estruturação de melhor destinação do lixo, ações que estão diretamente relacionadas ao bem-estar das pessoas e à preservação da natureza.

Acompanhe a entrevista:

Revista Canavieiros: Como o senhor vê a união das pastas da Infraestrutura (geração de energia, recursos hídricos e saneamento básico) com a do Meio Ambiente?

Marcos Penido: Gostaria de louvar essa decisão do governador João Dória. Assumir a posição de juntar essas pastas foi de uma visão ímpar, pois elas têm interfaces e sinergias muito grandes.

O meio ambiente não pode ser entendido hoje como o grande guardião ou grande tutor das leis, ele tem que ser um parceiro na construção de um desenvolvimento sustentável.

E nada melhor para isso que ele esteja dentro de um projeto. Então, quando nós temos juntos recursos hídricos, saneamento básico, energia e meio ambiente, podemos construir ações que desde o início irão conversar
e interagir.

Com isso, seremos mais assertivos em nossa missão de cuidar do bem-estar, que está envolvido diretamente com o meio ambiente. Se falarmos em saneamento básico, diretamente estamos cuidando da saúde da população e
da natureza. Se estamos gerando alternativas de energia ou cuidando dos córregos, estamos zelando para melhorar a vida das pessoas. Precisamos entender que desenvolvimento com responsabilidade gera sustentabilidade e é isso que buscamos.

Revista Canavieiros: O atual ministro do Meio Ambiente, Ricardo de Aquino Salles, já demonstrou várias vezes a sua visão de que o agro está bastante evoluído na questão da preservação e agora é a vez das cidades. O que o senhor pensa a respeito?

Penido: A visão do ministro Ricardo Salles é perfeita, ele tem uma visão muito assertiva com relação a isso. Temos que entender que hoje mais de 85% da população está no meio urbano e precisamos cuidar disso.

O saneamento básico, por exemplo, é fundamental para cuidar do meio que as pessoas vivem, é mais que isso, é crucial.

Para o meio rural há uma legislação e os envolvidos têm uma consciência muito grande do que precisa ser feito, ao contrário do urbano onde nos deparamos com problemas sérios ainda sem soluções.

Revista Canavieiros: A constante instabilidade do clima deixa cada vez mais presente a questão da irrigação em cana-de-açúcar. Qual a sua visão sobre esse tema, especialmente se considerarmos que ela é a principal cultura do Estado?

Penido: Com responsabilidade, estamos totalmente abertos para fazer irrigação em cana. Porém, consideramos que a água, em primeiro lugar, precisa ser para o uso humano. Depois pode ser destinada ao setor produtivo.

Colocado dessa forma, entendemos a importância de todas as outorgas e liberação para a irrigação. Sei que se trata de um manejo muito importante, pois através dele temos aumentos enormes de produtividade. Diante disso, temos que incentivar a questão dos açudes e criarmos reservatórios, esse trabalho é fundamental tanto para a irrigação como para o desenvolvimento humano.

Revista Canavieiros: Pensando em geração de energia, como o senhor enxerga a participação do setor sucroenergético, tanto atualmente com a queima do bagaço, mas também com o uso da vinhaça e torta de filtro como matéria-prima para geração de biogás em um futuro não muito distante?

Penido: Eu vejo essa questão de uma maneira extremamente feliz porque significa o fechamento sustentável do ciclo da cana, pois acarreta na utilização de grande parte dos resíduos industriais para ampliar a oferta de energia elétrica.Pensando em biogás, tem ainda a questão da redução do lixo urbano jogado em aterros, o que contribuirá com o plano nacional de redução de emissão de resíduos sólidos.

Tudo isso contribui para a geração de uma energia limpa, que fará bem ao meio ambiente, mas também contribuirá para São Paulo deixar de importar eletricidade. Hoje temos 40% da nossa energia vindo de fora, e com essas alternativas vamos buscar a autonomia do estado nessa questão.

Revista Canavieiros: Os primeiros meses da gestão Dória estão marcados por alguns incentivos a programas estratégicos, como no caso da GM e também a introdução de linhas aéreas em aeroportos esquecidos do interior como Franca, São José do Rio Preto e Barretos. O senhor acha possível que surjam incentivos a greenfields para a geração de energia dentro do setor sucroenergético?

Penido: Precisamos verificar, vamos tomar muito cuidado com essa questão de incentivos e benefícios porque não se pode esquecer que para o estado girar ele precisa gerar impostos.

Qualquer benefício precisa ser colocado em uma balança para sabermos qual o seu retorno. Se nós trabalharmos o benefício pelo benefício, todos os setores vão querer e aí teremos falta de verba para aplicar em itens básicos, prejudicando o desenvolvimento necessário.

Partindo desse ponto vamos diagnosticar caso a caso, analisar as questões relacionadas ao desenvolvimento, na geração de empregos e de novos impostos.

Outra questão é a transparência para que todos compreendam por que determinado setor conseguiu um incentivo, como foi o processo e qual o retorno comprometido pela iniciativa privada.Diante disso, queremos quebrar a cultura da solicitação de benefícios sem um horizonte bem projetado.

Será preciso colocar no papel números consistentes, relacionados ao desenvolvimento social, econômico e também fiscal que determinada medida irá gerar.

Revista Canavieiros: Está travada há um bom tempo a regulamentação de como o produtor rural poderá utilizar suas áreas de preservação de forma econômica. É de interesse do senhor agilizar o fechamento dessa questão?

Penido: No sentido da regulamentação ainda dependemos de uma questão legal, estamos no campo jurídico para encontrarmos a solução ideal. Com esse trabalho concluído, vamos abrir as portas da secretaria para fazer da Reserva Legal não só o cumprimento de uma determinação, mas expandi-la para uma atividade econômica.Também queremos que nossas unidades de conservação sejam cada vez mais atrativas, não só conhecidas, mas reconhecidas e visitadas.

Ao conhecê-las, as pessoas passam a dar importância na conservação e mudam de postura durante o seu dia a dia nas cidades.Nós não conseguimos proteger aquilo que não conhecemos. Por isso, é preciso intensificar a troca entre a sociedade e a unidade de conservação. Esse é nosso objetivo, estamos abertos a todas as discussões, temos que ter o regramento disso e sermos criativos para expandirmos e desenvolvermos essas ações.

Revista Canavieiros: O casamento entre a área ambiental e agrícola acontecerá ao longo da gestão Dória?

Penido: Já trocamos as alianças, já estamos casados, tanto que algumas atividades, como o CAR e o PRA já foram para a Agricultura, inclusive os técnicos estão lá e são profissionais de extrema experiência para ajudar na integração entre Agricultura e Meio Ambiente, seja nas questões de escritório ou do dia a dia.

A Agricultura e o Meio Ambiente estão juntos buscando o desenvolvimento sustentável. O setor agrícola para São Paulo é de suma importância, temos que zelar por ele e trazer benefícios para a sociedade. Não falo somente dos benefícios econômicos, mas daqueles conscientes e sustentáveis que geram melhorias para o bem-estar da sociedade e que contribuem para a qualidade de vida dos paulistas.

Fonte: Revista Canavieiros

Escrito por: Marino Guerra

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