Meio ambiente e agricultura de alianças trocadas

O evento contou com a participação de várias lideranças de diversas áreas que envolve a cadeia da cana-de-açúcar.

03/04/2019 11:19

Evento realizado na Canaoeste com a presença do secretário da infraestrutura e meio ambiente Marcos Penido mostra uma comprometida união entre os dois lados

Texto: Marino Guerra
Fotos: Rodrigo Moisés

No acender das luzes do mês que marca o início da safra 19/20, a primeira sob os governos Bolsonaro e Dória, a Canaoeste realizou em seu auditório (Sertãozinho-SP) o fórum “Soluções Agroambientais”, temática delicada, mas de fundamental importância para o setor produtivo se organizar nesse momento de possível retomada.

O evento contou com a participação de várias lideranças de diversas áreas que envolve a cadeia da cana-de-açúcar. A abertura foi realizada pelo deputado federal Arnaldo Jardim, quando ele mostrou como tanto setor público como privado vem se articulando para conquistar seus objetivos, “o setor como um todo vem mostrando que a atividade de produção vai casar com a de conservação”.

Representando o governo do Estado de São Paulo participaram o secretário de infraestrutura e meio-ambiente, Marco Penido, e o assessor técnico da Secretaria de Agricultura, José Luiz Fontes, representando o Secretário da Agricultura e Abastecimento do Estado, Sr. Gustavo Junqueira. Os dois, moderados pelo gestor jurídico e ambiental da Canaoeste, Dr. Juliano Bortoloti, deram início aos trabalhos com o primeiro painel, cujo o tema foi: Compensação de Reserva Legal.

“Ninguém é dono da verdade, estamos trabalhando para entender todos os lados e com isso construir uma realidade sustentável em conjunto”, com essa frase, na conclusão do painel, Penido conseguiu demonstrar que no governo de João Dória, a separação entre ambientalistas e agricultores chegou ao fim e que o foco é encontrar o ponto de equilíbrio em tudo que envolve as duas matérias, incluindo a questão da compensação.

Nesse quesito a maior novidade ficou por conta da transferência da atribuição compensação das reservas legais da pasta ambiental para a da agricultura, o que, segundo Fontes, não demandará tempo de aprendizado pois o pessoal já está envolvido com o processo de regulamentação do PRA (Programa de Regularização Ambiental) desde 2015.

O secretário ainda ressaltou que não foi passada somente a função, mas transferida toda a estrutura e conhecimento, além de ser um bom exemplo de que as duas pastas conseguem trabalhar bem juntas.

“Quem conversa com o agricultor é o pessoal da Cati (Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável), se parar em uma propriedade um carro do Meio Ambiente o produtor já vai achar que vai ser autuado. Diante disso é importante quem tem a sua confiança passar a mensagem”, concluiu Penido.

Para finalizar, o mediador Dr. Juliano Bortoloti parabenizou os participantes e também o governo do Estado de São Paulo pela proatividade para com o setor produtivo, “com certeza essa união vai ser um case de como atingir um ponto de equilíbrio no setor, nesse momento o estado dá exemplo de proatividade, principalmente se comparado com a reatividade de outrora”.

O segundo painel tratou de tecnologia e contou com representantes de dois importantes centros de inovação, representando o Centro de Cana do IAC, o pesquisador Marcos Landell. O segundo convidado foi o gerente executivo da EsalqTec (incubadora tecnológica ligada a universidade), Sérgio Marcus Barbosa. Para contribuir com a visão de uma startup agro que se consolidou no mercado, o CEO da IDGeo, Ronan Campos, também fez parte da mesa que foi moderada pelo gestor corporativo da Canaoeste, Almir Torcato.

Com base no tema o mediador provocou os convidados sobre o que acham da visão de que o produtor de cana é conservacionista. O primeiro a falar foi Landell que mostrou o quanto a produtividade dos canaviais está abaixo do que é possível chegar, no entanto reconhece que com a remuneração baixa dos últimos anos é complicado o investimento em tecnologia, porém vê que introduzir tecnologias é a única maneira de ampliar os ganhos e sair desse círculo vicioso.

Campos, executivo da startup, salientou que é preciso aprimorar o desenvolvimento de tecnologias específicas para o produtor e não pegar um produto já pronto e adequar para o campo. Enquanto que Barbosa vê o produtor rural conservacionista, mas que sempre adotou tecnologias, isso explica o sucesso do agro nacional, que é baseado no desenvolvimento científico.

Ele ainda citou outro “gap” que trava o avanço tecnológico do agro que é a falta de capacitação da mão-de-obra.

A segunda provocação de Torcato se referiu a participação da nova geração no comando das operações agrícolas, a qual foi respondida por Landell focando na facilidade deles identificarem possibilidades para crescer seus negócios e citou o caso de um produtor que investiu na produção de MPBs (Mudas Pré Brotadas) e praticamente triplicou o faturamento da produtividade).

Campos focou na questão da geração e sua capacidade de compartilhamento de dados, “informações isoladas não servem para nada”. Já Barbosa ressaltou que a tecnologia como ferramenta é um dos motivos fundamentais para as novas gerações querer ficar no campo e assumir a atividade que vem desde o avô.

O tema mais polêmico foi reservado para o terceiro painel, o qual contou como debatedores (as), a consultora jurídica para assuntos ambientais da Frente Parlamentar da Agropecuária no Congresso Nacional, Dra. Samanta Pineda; da consultora socioambiental, Iza Barbosa e do diretor da Reservas Votorantim, David Canassa. A conversa contou com a mediação do presidente da Orplana, Eduardo Romão.

O clímax foi atingido quando a Dra Samanta Pineda em primeiro lugar enumerou as causas que exige do setor a mesma união registrada na aprovação do código florestal, que são: o desafio da implementação do RenovaBio até o final do ano, a aprovação da lei dos agroquímicos e a lei federal que regulamenta os licenciamentos ambientais, que trará segurança jurídica ao setor produtivo.

Em seguida ela pediu o apoio do secretário Penido em algumas causas do setor que precisam ser resolvidas na esfera estadual, como a revisão das TACs (Termo de Ajuste de Conduta) e TCRAs (Termos de Compromisso de Recuperação Ambiental) que necessitam ser renegociadas conforme o código ambiental, a necessidade de regulamentação tendo em vista o enorme pedido de indenização de supostos apicultores alegando prejuízos pela pulverização vizinha, a regulamentação da Lei do Cerrado (se as áreas preservadas podem contar como Reserva Legal ou Área de Preservação Permanente nas propriedades) e a uniformização cartorária para a regulamentação de propriedades rurais.

Como resposta, o representante da pasta ambiental aceitou o desafio e ainda abriu as portas da secretaria para que todas as soluções fossem encontradas em parceria com o setor produtivo, “queremos a participação ativa de vocês para evitar erros na criação desses projetos, quero fazer uma cartilha como foi a Caminho Suave na educação, a qual a grande genialidade esteve em sua simplicidade”.

Ainda no painel, Canassa ressaltou a necessidade do setor produtivo brasileiro se unir e chegar nas discussões mundiais articulado para defender a bandeira, como as grandes nações do mundo faz, e apontou para a união testemunhada ali como um exemplo prático disso. Enquanto que a consultora Iza Barbosa focou na importância do setor gerar índices voltados a sustentabilidade de qualidade para mostrar o quanto é evoluído no tema em relação ao resto do planeta.

Lançamentos

Ao longo do evento a Canaoeste também apresentou soluções ligadas ao tema que estão disponíveis para seus associados. O grande destaque se trata da parceria com o Legado Das Águas Votorantim para a compensação da reserva legal.

O projeto vai permitir que o produtor associado não precise reduzir sua área produtiva ou tenha que investir na compra de alguma reserva para complementar o espaço verde restante com base no código florestal, isso porque ele poderá arrendar, a preço diferenciado, dentro do Legado das Águas, a maior reserva privada de Mata Atlântica do país, com extensão de 31 mil hectares (aproximadamente o tamanho da cidade de Curitiba-PR).

Além do valor de arrendamento diferenciado, o associado que decidir participar do projeto não vai precisar pagar o ITR (Imposto Territorial Rural), pessoal para manutenção e segurança da área e principalmente estará livre do risco de incêndio, o que pode gerar pesadas multas e ainda todo o custo de replantio.

A associação também lançou seu aplicativo, ferramenta mobile que vai agilizar a comunicação de incêndio, fazer o check-list das adequações da propriedade com relação ao programa de prevenção a incêndios, também servirá de ponte para a comunicação entre associação e associado, além de diversas melhorias que em breve estarão disponíveis não somente cobrindo a esfera ambiental, mas também a agronômica, como o programa de mapeamento de biomassa, que em breve estará na palma da mão do produtor.     

Deixe seu comentário
Comentários
Marcio H. Pereira, enviado em 08/04/2019

Muito bom o evento. Parabens ao pessoal envolvido.