A cana-de-açúcar preservando a mata atlântica

13/05/2019 08:00

Enxergar a importância ambiental do Legado das Águas, programa que faz parte do projeto “Reserva Votorantim”, do grupo empresarial criado e liderado durante anos por Antônio Ermírio de Morais, não é tarefa difícil. Porém, tão bonita como sua exuberante natureza, é a materialização da sustentabilidade racional, do perfeito encaixe entre os setores produtivo e ambiental e, com isso, a leva de benefícios sociais gigantescos.

Para entender a magnitude do projeto é preciso voltar no tempo, quando na década de 50, dentro de uma mente extremamente diferenciada, foi criado um dos maiores conglomerados empresariais da história do Brasil. O executivo percebeu que teria problemas para comprar a energia demandada para operar uma fábrica de alumínio em fase de construção, no interior de São Paulo, e implantou um projeto de construção de usinas hidrelétricas próprias na bacia do Rio Juquiá (Vale do Ribeira, Sul do Estado).

Até aí nada de genial. O grande diferencial foi em sua percepção de que era preciso conservar as nascentes dos rios para que a água não viesse a faltar em suas usinas. E para manter essas intactas, também era necessária a conservação da floresta.

Diante dessa constatação, a Votorantim adquiriu propriedades, em um primeiro momento, às margens do rio e, posteriormente, foi ampliando o raio de alcance em muitos quilômetros, chegando até os 31 mil hectares de hoje, sendo a maior reserva privada de Mata Atlântica.A título de comparação, seu tamanho é maior que as Ilhas Maldivas, representa dez florestas da Tijuca e cinco parques da Cantareira. Um outro ponto é que ao lado de parques estaduais e outras áreas de proteção ambiental, faz parte de um importante corredor do bioma que liga os estados do Rio de Janeiro e Paraná.

Com o passar do tempo, a reserva passou a ser interessante para novos negócios, o que a fez se transformar numa empresa que oferece soluções ambientais através da gestão e conservação desses ativos, possibilitando a geração de valor econômico, financeiro e reputacional para os clientes.

Dessa forma, seu portfólio é baseado em geração de conhecimento científico atrelado à conservação, modo alternativo para compensação de Reserva Legal, desenvolvimento de viveiros para comercializar plantas nativas de alta qualidade (com variabilidade genética e rastreabilidade), ecoturismo, atividades educacionais e estudos do meio.

Parceria

A parceria fixada com a Canaoeste trata da compensação da Reserva Legal através do arrendamento da área faltante para atingir os 20% de áreas necessárias, de acordo com o Código Florestal. Essa compensação seria realizada em um local dentro do Legado, celebrado em contrato com regras claras e valores definidos, com garantia de renovação no final de sua vigência.

Então, se um proprietário rural tiver 15% de Reserva Legal e for associado Canaoeste, ele poderá compensar os 5% que faltam dentro do Legado. Essa área de Mata Atlântica é alocada nos documentos do proprietário rural, garantindo o cumprimento da obrigação de manter sua área verde dentro dos atributos legais requeridos no Código Florestal.

Além da compensação, a reserva consegue fazer dinheiro com o viveiro de plantas nativas, já que possui capacidade produtiva de 200 mil mudas por ano, que podem ser utilizadas em projetos de recomposição florestal dentro do bioma, em trabalhos de paisagismo que contribuirão para a certificação de sustentabilidade em edificações e parcerias para reflorestamento de centros urbanos.

No entanto, para provar que as mudas vieram realmente da mata nativa, em 2017 foi dado início a um processo de rastreabilidade de cada planta, desde a matriz até o consumidor final. O sistema consiste na identificação de cada muda com um QR Code e informações sobre sua origem, produtos usados em sua adubação, manejo e cuidados, entre outras.

O ecoturismo também é um ramo de negócios que cresce bastante. Dentro desse espectro, a reserva pode oferecer atividades variadas como trilhas e travessias, onde as primeiras consistem em distâncias menores, mas que proporcionam aos que a praticam a possibilidade de conhecer melhor toda a estrutura através de visitas aos viveiros, orquidários, telhado verde, caminhadas sobre uma passarela suspensa de 1,4 km e um mirante com vista especial para a estonteante Mata Atlântica. Tudo isso andando menos de sete quilômetros.

Para quem deseja encarar desafios maiores há também duas travessias: uma de 12 km que é realizada em um dia, e outra de 23 km – com direito a passar uma noite em plena mata. As duas atividades proporcionam aos seus praticantes a experiência de percorrer encostas, atingir o cume da Serra de Paranapiacaba, atravessar riachos e cachoeiras, fora a observação direta de plantas e animais.

Outra atividade que atrai muitos turistas é a observação e produção de imagens de aves. A reserva tem catalogadas mais de 300 espécies, sendo muitas delas endêmicas da Mata Atlântica, o que lhe qualifica como uma das principais áreas no Brasil.

E claro que pelas características do local, o pessoal da mountain bike não ficaria de fora. Há uma pista no meio da mata com um trajeto de aproximadamente 30 km com ganho de elevação de 1,36 mil metros em estrada de terra/chão batido, classificado, devido à altimetria, como de nível intermediário de dificuldade.

Para finalizar o menu de atrações, não poderia faltar uma atividade aquática e o caiaque foi o esporte escolhido. O trajeto consiste em remar (caiaque duplo de alta estabilidade) por uma represa, permitindo a participação de iniciantes.

Durante o percurso é feita uma parada na “Praia de Pedra”, local que conta com estrutura formada por banheiro seco e quiosque, sendo possível realizar um lanche e destinar um tempo para banho na represa ou até mesmo remar em pranchas de stand-up paddle.

Quem está longe da reserva (cerca de 450 km de Ribeirão Preto), caso da maioria dos associados, pode aproveitar as diversas atrações se hospedando em um alojamento com 17 quartos e capacidade para 35 pessoas.

Em 1994, à Folha de S. Paulo, Antônio Ermírio de Morais deu a seguinte declaração em uma entrevista: “Não adianta impedir o uso dos recursos naturais, é preciso encontrar formas de utilizá-los de forma racional. O Brasil tem imensas riquezas que precisam ser exploradas. Cabe aos brasileiros estabelecerem os meios que permitam o progresso social e a preservação ambiental”.

Todas as forças do Legado das Águas corroboram para a afirmação do empresário e parece que finalmente a classe política e parte dos setores ambiental e agrícola começam a interpretar tal afirmação. Lógico que ainda há um trabalho árduo para o estouro das bolhas de quem está nas extremidades, mas a eficiência, com certeza, será a ferramenta ideal para o serviço.

Fonte: Revista Canavieiros

Escrito por: Marino Guerra

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